sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Reflexão 4

A reflexão a seguir se faz sobre a observação do vídeo da primeiras intervenções públicas da pesquisa, que o Norberto chamou de "Do Tempo das Coisas ao Centro do Tempo e... volta".
A intervenção consistia na realização de uma frase de movimentos cíclica e ininterrupta em uma praça pública, de preferência um espaço público com bastante circulação e que já tivesse um ritmo próprio. A frase de movimentos transitava entre o "cotidiano" e o "dançado" e esta variação acontecia de acordo com os estímulos que eu recebia de fora, das pessoas e dos pequenos acontecimentos.
Depois da intervenção nos reunimos algumas vezes para conversar sobre o que pudemos observar, todas as conversas foram gravadas. Observei os vídeos e fui extraindo o que considerei relevante para o seguimento do trabalho.
Escrevo em primeira pessoa (Andrea Elias) e muitas vezes me refiro a mim mesma como "a performer" quando a reflexão é sobre o estado a ser colocado em trabalho e não sobre minha observação pessoal.

Apontamentos a partir de observações dos registros em vídeo

24/03/10
Paulo Marques: “O que as pessoas dizem não coincide com o que elas falam” (fala registrada no vídeo sobre a relação entre discurso e corporalidade).
Trabalhamos com a idéia de cuidado preponderantemente em dois aspectos:
1. CUIDADO 1 - Físico: pontos de conexão do próprio corpo (atriz-bailarina) com o corpo do outro (público); idéia de eixo (coluna/centramento): o que é em “mim” (neste eixo), o que é fora de “mim” (que tangencia este eixo).
2. CUIDADO 2: cuidado com ou sobre o outro: vigiar, vivemos numa sociedade vigiada controlada; quebra dos padrões de pensamento; atenção aos padrões de pensamento que geram, conseqüentemente, padrões de movimento.

25/03/10
Andrea: “Desculpe, mas eu me vejo de novo fazendo o mesmo exercício exaustivo de juntar as duas linguagens (dança e teatro). Porque eu acho que não precisa ser uma preocupação de movimento e uma preocupação de situação. Eu acho que tem uma materialização das idéias que passa por essas duas coisas”. (Em discussão com Paulo Marques e Norberto Presta, em 30/10/09).

28/03/10
O que não queríamos com as intervenções:
 Destacar: “Aqui está acontecendo uma performance”;
 O apassivamento do público na condição de expectador de uma ação.

Sobre a intervenção n. 1: o espaço cênico era o corpo do performer, o que acontecia se passava em mim e na minha relação (às vezes muito íntima) com o público.
Questão: como prorrogar esse momento de relação que se estabelece entre mim e o público?
Acordos: situações de cumplicidade com o público, uma quase instabilidade onde o passante (transeunte) percebe o que está acontecendo e, sem revelar, faz um acordo permissivo para que o acontecimento (perfomance) permaneça no seu estado de quase invisibilidade.
Performer como AGENTE PROVOCADOR: eu tenho um material pronto para abrir um território de comunicação com alguém.

Reflexão crítica (onde foi que erramos):
 Na intervenção n.2 erramos ao oferecer a ação de abraçar pelo verbo, pela palavra, em vez de oferecê-lo pelo código inicialmente estabelecido “ação/movimento/dança”.
 A performer precisa incorporar o “estado da performance” em todo a duração da intervenção: preciso parar de me preocupar com as questões que estamos investigando e permitir que o corpo entre na proposta do acontecimento, sem ficar analisando o que está acontecendo no momento em que acontece.

19/08/10
Observação sobre a filmagem de “Do Tempo das coisas...” (intervenção n. 1)

A dimensão dos acontecimentos. Em “Do tempo das coisas...” eu fico durante uma hora realizando uma mesma seqüência com pequenas variações. Para quem observa de fora nada acontece de modo evidente, no entanto, milhares de pequenas ações se desenvolvem entre mim e o “público”. O observador “de dentro” capaz de atentar para essas pequenas ações, pode observar também que a tensão que se cria entre a não revelação de um “acontecimento cênico” e não completa assunção do público enquanto público, é necessária para que estas pequenas ações se estabeleçam e se desenvolvam. Caso eu me revelasse como performer logo de início, o público, provavelmente, se assentaria na sua poltrona numerada, no lugar cômodo de receptor das mensagens.

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