quarta-feira, 12 de maio de 2010

Reflexão 1

A Semana de Trabalho de 29 de maio a 5 de junho

A produção do vídeo que ganhou o título Esther Williams não quer mais nadar foi um momento importante do processo de trabalho porque nos fez retornar ao material já desenvolvido durante o Encontro Pedagógico Internacional, em Vighizzolo d’Este (Itália), quando ainda começávamos a cercar o tema da pesquisa. Naquele momento o que aparecia como tema para futura montagem vinha sob o que eu chamava de “feminino”. Na verdade o que eu chamava ali de “feminino” não se traduzia, na minha intuição, como uma questão de gênero: “falar da questão da mulher na sociedade contemporânea”. Não era nada disso. O que urgia tocar (e que sinto estar bem mais próximo hoje) se relacionava à qualidade de relação do humano consigo, com o outro e com o espaço que o circunda. O que tinha a ver com o feminino, para mim até aquele momento, é a qualidade do cuidado com que as mulheres (de modo geral, na maioria das sociedades ocidentais) se dedicam, ou espera que se dediquem, a essas relações. Não por se tratar de uma ocupação própria da mulher, mas porque ao longo da história (na maioria das sociedades ocidentais) a elas coube a função de cuidar. O que não significa dizer que seres humanos do sexo masculino são privados desta qualidade em suas relações.


Quando me aproximei um pouco mais da questão que queria desenvolver com este trabalho, o tema se apresentou sob o nome Cuidado! (primeiro assim, com exclamação). Cuidado! carregava o tema que havia sido primeiramente entendido no âmbito mais geral como “feminino” e, no meu entender, afunilava um pouco mais o tema da pesquisa. E, do ponto de vista do movimento, a palavra CUIDADO continha a projeção o recolhimento, dependendo do sentido com que fosse empregada. Tempos depois me dei conta de que, para carregar os dois movimentos ( ↔ ), CUIDADO precisava estar sem a exclamação. Exclamativamente a palavra poderia ser entendida apenas como expressão de cautela, o que supõe somente o movimento de recolhimento.


Em Esther Williams não quer mais nadar fizemos o exercício de sintetizar em 10 minutos as experiências em torno dos temas acima (feminino e cuidado) desde que começamos a trabalhar, pesquisar e criar em 2007. O resultado foi assim intitulado por Norberto Presta e, sem oferecer resistência, aceitei. Quando aceitei prontamente também intuía que o tema que vínhamos cercando estava presente neste título que, agora sim, recortava o tema com mais apuro sem abandonar as primeiras questões que lhe deram origem.


Na década de 50 Esther Williams representava um ícone feminino que, como todo ícone feminino da década de 50, aparentava um modelo de mulher: corpo perfeito, loiríssima (artificialmente), sempre impecável em suas aparições públicas e, sobretudo, quase uma super-mulher, uma espécie de heroína, com “poderes acima dos naturais”. Esther Williams era a mulher que dançava embaixo d’água, era “A Jane do Tarzan”. A frase que intitula esta fase do trabalho “Esther Williams não quer mais nadar” carrega, do meu ponto de vista, um conflito muito próprio à mulher contemporânea: aquele que a coloca entre a profissão e o lar, entre a potência de ser e a potência de não ser. Entendendo que a potência de ser e não ser podem estar em qualquer das posições: na profissão ou no lar. Porque sobre as mulheres, hoje, pesa a cobrança (de quem? Para quem?) de sucesso em todos os postos cujo direito de ocupar adquirimos no último século.


Dizer que um ícone não quer mais executar a ação que a faz ser reconhecida como tal pode representar um momento de incerteza, de indeterminação, o momento da passagem de uma determinada situação a outra que não se sabe qual é. Tocar este momento de indeterminação, que de algum modo nega uma situação instaurada, me agradava, pois, de algum modo, representava um momento de fragilidade de alguém que até ali sabia muito bem para onde estava indo e a partir dali não era mais, não queria mais. Momento este que carece de cuidado, atenção e... afetos.


A seleção que fizemos do material de movimento, para a montagem de Esther William... também apontou para esta “indeterminação”, tanto na seqüência dos movimentos quanto na qualidade com que realizamos a execução da seqüência.


No final deste processo parei novamente para averiguar que rumos estavam tomando esta pesquisa e conferir que o exercício que viemos praticando foi apenas o de fazer pequenos recortes dentro do tema proposto para a pesquisa apresentada sob o tema Cuidado!. A cada vez que me aproximava mais do tema CUIDADO, verificava que tocava a questão do “feminino” naquilo que me interessava: “as relações entre os seres humanos nas sociedades contemporâneas”. Quando cheguei a este lugar supus que três autores poderiam ser interessantes investigar por tratarem de temas relacionados às formas que tomam as relações entre os seres humanos nas sociedades contemporâneas. Assim, sugeri que nos perdêssemos um pouco na leitura dos seguintes autores: Zygmunt Bauman, Jürgen Habermas e Giorgio Agamben.



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